domingo, 17 de maio de 2015

O lado humano da computação: Dispositivos mecânicos

Anteriormente tratamos dos termos "computação" (relacionando-o a cálculo e operações matemáticas) e exemplificamos que a História da Computação não é tão recente quanto se imagina. Saltando um pouco na história, encontramos John Napier (1550-1617), o Barão de Merchiston. Este matemático, físico, astrônomo, astrólogo e teólogo escocês é conhecido pela descoberta dos logaritmos, além de ter inventado instrumentos para ajudar no cálculo aritmético. Uma de suas invenções, um dispositivo chamado “Ossos de Napier” são tabelas de multiplicação gravadas em bastão, que permitem a multiplicação e divisão de forma automática, evitando a memorização da tabuada. Os “Ossos de Napier” auxiliaram o uso de logaritmos na execução de operações aritméticas como multiplicações e divisões longas.

John Napier
A partir dos logaritmos de Napier, o matemático inglês Willian Oughtred (1575-1660) desenvolveu a régua de cálculo. Essa invenção ganhou sua forma atual por volta do ano de 1650 e tornou-se, no século XX, o grande símbolo do avanço tecnológico, com uso extremamente difundido, até ser definitivamente substituída pelas calculadoras eletrônicas. Além disso, em sua obra, Oughtred enfatizou os símbolos matemáticos, como o “x” utilizado para multiplicação.

Willian Oughtred 
Com o desenvolvimento dos primeiros dispositivos mecânicos para cálculo automático, começa efetivamente a vertente tecnológica que levará à construção dos primeiros computadores. Entre os nomes que podem ser citados a partir daqui destacam-se: Wilhelm Schickard (1592-1635), Blaise Pascal (1623-1662) e Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 -1716).

O alemão Schickard é considerado o primeiro a construir uma máquina de calcular mecânica, o “relógio de calcular” para multiplicação de grandes números. O francês Blaise Pascal montou a primeira máquina de cálculo para ajudar nos negócios do pai em 1642. Assim, é atribuída a ele a criação de uma das primeiras calculadoras mecânicas, a Pascaline, além de contribuições importantes para a criação de dois novos ramos da matemática: a Geometria Projetiva e a Teoria das Probabilidades. Já Leibniz desenvolveu um dispositivo mecânico de calcular capaz de multiplicar, dividir, somar e subtrair e é considerado o precursor da Lógica Matemática moderna.

Blaise Pascal
Seguindo a ideia de Leibniz de, através de máquinas, liberar o homem das tarefas repetitivas e de simples execução, o matemático e astrônomo inglês Charles Babbage (1792-1871), considerado unanimemente um dos grandes pioneiros da era dos computadores, concebeu a ideia de um dispositivo mecânico capaz de executar uma série de cálculos.

Visando construir um dispositivo para computar e imprimir um conjunto de tabelas matemáticas (utilizadas na época para cálculo de multiplicação, seno, coseno, logaritmos, densidade, constante gravitacional, entre outras funções), Babbage arquitetou a Máquina de Diferenças. Ao tentar colocar seu projeto em prática, ele percebeu que a tecnologia do seu tempo estava distante daqueles mecanismos altamente precisos e de movimentos complexos exigidos pelo seu projeto. No entanto, possivelmente modificando seu projeto inicial, Babbage idealizou uma máquina de cálculo universal, a Máquina Analítica, conceitualmente próxima do que hoje é chamado de computador.

Charles Babbage
A Máquina Analítica poderia seguir conjuntos mutáveis de instruções, o que demandaria uma linguagem que serviria para que máquina fosse “programada” com uma série de instruções condicionais, que lhe permitiriam modificar suas ações em resposta a diferentes situações. Além da linguagem, Babbage também desenvolveu o conceito de “dispositivos de entrada” (cartões a partir dos quais a entrada de dados seria feita) e “transferência de controle” (permitia à máquina comparar quantidades e, dependendo dos resultados da comparação, desviar para outra instrução ou sequência de instruções), além de possibilitar que os resultados dos cálculos pudessem alterar outros números e instruções colocadas na máquina, permitindo que a máquina modificasse seu próprio programa.

Apresentada a Babbage durante a primeira demonstração da Máquina de Diferenças, Ada Augusta Byron (1815 -1852), Condessa de Lovelace, tornou-se uma importante auxiliar em seu trabalho, sendo, sobretudo, alguém que compreendeu o alcance das novas invenções. Ela percebeu que, diferentemente das máquinas anteriores com funcionamento analógico (execução de cálculos usando medidas), a Máquina de Diferenças era digital (execução de cálculos usando fórmulas numéricas). Mais importante ainda, deu-se conta da combinação entre funções lógicas e aritméticas na máquina de Babbage. Atualmente, Ada Lovelace é considerada a primeira programadora de computadores por ter escrito o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina.

Ada Lovelace
Destaca-se também que a Máquina de Diferenças de Babbage serviu de base para construção de máquinas ao redor do mundo. Por exemplo, cabe citar que, tomando por base a descrição (e modo de operação) da máquina, o sueco, George Scheutz (1785-1873) propôs-se a construí-la e, em outubro de 1854, o dispositivo de Scheutz estava completo e em funcionamento. Outros, como o inglês Alfred Decon, o sueco Martin Wiberg e o americano G. B. Grant construíram modelos derivados, e até 1931 diversas “Máquinas de Diferenças” foram construídas para produzir diferentes tipos de tabelas. Além disso, consta que o irlandês Percy Ludgate (1883-1922) projetou e tentou construir um mecanismo similar ao da Máquina Analítica de Babbage.

Embora sua invenção esteja obsoleta atualmente, Herman Hollerith (1860-1929) deu um passo importante na história da computação. A empresa fundada por ele para o desenvolvimento de um equipamento de processamento de dados para auxiliar o censo americano, a Hollerith Tabulating Machines, veio a ser uma das três que em 1914 compôs a empresa CTR (Calculating-Tabulating-Recording), renomeada em 1924 para International Business Machine - IBM.

Herman Hollerith
Destaca-se que Hollerith tomou por base uma máquina produzida pelo francês Joseph-Mariae Jacquard (1752-1834), que usava uma série de cartões perfurados cujos buracos estavam configurados para descrever o modelo a ser produzido em teares. Hollerith pensou que poderia aproveitar os cartões perfurados dos teares em uma máquina que pudesse interpretar, classificar e manipular as somas aritméticas representadas pelas perfurações. Atualmente, Hollerith é conhecido como o pai do processamento de dados.

No próximo post serão apresentadas algumas das principais personalidades que contribuíram para o surgimento e desenvolvimento dos computadores analógicos.
Fontes:
Fonseca Filho, Cléuzio. História da computação: O Caminho do Pensamento e da Tecnologia.  – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2007
Wikipédia

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